O conceito de guilty pleasure é uma grande babaquice. Estamos tão acostumados a viver sob a vigilância do crivo alheio que esquecemos que temos o direito de gostar do que gostamos. Aqui me refiro a gostos pessoais, que fique claro, e nada que seja moral e eticamente questionável. Entenda que há limites.
Lembro com clareza
média – como quase tudo na minha vida - de algumas situações corriqueiras,
especialmente na infância e na adolescência, que me levaram a anos de eco
mental da frase “mas que gente chata do cacete”. Um tema em especial até hoje
me chama a atenção, e recentemente voltou à tona em razão dos 10 anos do
falecimento do Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr.
Eu não gosto de
Charlie Brown. “AI BOTTINI, QUE SACRILÉGIO, O CAIÇARA QUE NÃO OUVE CHARLIE
BROWN!”. É, fazer o quê. Absolutamente nada contra a banda, nem acho ruim, só
não gosto. Conviver com isso na fase adulta – ainda que continue levantando
questionamentos de gente sem noção – é muito tranquilo. Finalmente estou em paz
com os meus gostos e sequer sinto vontade de querer justificá-los.
Mas quando se é
novo, tentando estruturar identidade própria enquanto lida com as pressões do
crescer, parece que a coisa vira uma espécie de morte em vida. Você existe, mas
não é reconhecido como agente ativo. Como se aderir a certo movimento
determinasse até a possibilidade de ser considerado pra fazer parte daquele
ambiente.
Óbvio que o ser
humano, enquanto ser social, está sujeito à formação do “eu” através da relação
dialética com o mundo à sua volta, mas “negar” esse mundo também não é
dialetizar com ele? Pensemos outro cenário de possibilidades.
Muitos amigos da
cozinha gostam de comer nos McKings e CarroLanches da vida, e estranhamente
isso é meio que um tabu, nem todo mundo admite abertamente. Por quê? Em certo
aspecto, compreendo perfeitamente. Enquanto profissionais somos compelidos ao
apego à técnica, que se oporia em absoluto ao mercadológico/industrializado.
Porém, vou contar um
segredo pra vocês: tá cheio de chef de capa de revista usando caldo pronto
de poliquímicos de sódio e outros vacilos ultraprocessados em prato de 200 janjos,
mas cagando regra sobre como a equipe dele, cagada, cansada, mal paga e doente
deveria se portar ou o que deveria consumir.
Enfim, é óbvio que
se passássemos algumas horas abstraindo sobre a objetividade ou não do que pode
ser considerado bom entraríamos em uma discussão completamente diferente, principalmente
sobre a possibilidade concreta de todo mundo ter acesso ao que quisesse pra
formar gosto, sobre o que quer que fosse, nivelado por cima. Mas esse não é o
objetivo, agora.
Vim aqui só pra deixar
minha pulga-atrás-da-orelha semanal pra quem perde tempo lendo o que eu escrevo,
afinal de contas, gosto é gosto, e sendo assim, tenha a decência de, após essa
leitura, evitar sair por aí questionando os outros. Provavelmente, a não ser
que tenham pedido, ninguém liga muito pra sua opinião. Goste do que você gosta
e deixa as pessoas. Tá tudo bem não ser juiz do tribunal alheio.
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