terça-feira, 18 de março de 2025

Lapsos Culinários, Como Lido Comigo Mesmo e Duas Receitas que Você Não Pediu - Mas Vai Ganhar Mesmo Assim

 


Sabe aquele papo de que “você sai de ‘x’, mas ‘x’ não sai de você”? São coisas que ficam evidentes através do sotaque ou de um costume, e você com certeza carrega alguma coisa assim pra onde quer que você vá. Comigo não é diferente. É curioso que, mesmo depois de tanto tempo, a cozinha ainda ocupe um espaço tão grande na minha vida.

Tô sempre pensando em comida, assistindo um programa documental sobre alimentação, ficando irritado com alguma rasgueira tosca que alguém faz num reality culinário, lendo livros sobre como a alimentação serviu de motor pra um número absurdo de descobertas e eventos históricos.

Enfim, acho que me fiz entender: comida me move em diversos sentidos, e faz parte até de momentos em que preciso organizar a cabeça, botar as ideias no lugar ou só controlar a ansiedade. Demorei um pouco pra entender que, pra além de desviar minha atenção do que quer que estivesse ou esteja me incomodando, cozinhar ajuda porque é um processo que se estabelece sob uma certa rigidez e ordenação na cabeça de quem já pisou numa cozinha profissional.

Como nem tudo são flores, recordo a vocês que abandonei o ofício e pendurei as panelas porque, na mesma medida que faz bem, alimentava processos negativos que me adoeceram o suficiente pra mudar vertiginosamente essa relação durante alguns anos - como acredito que já mencionei anteriormente - mas que agora voltou ao que era. Tudo isso pra falar que, pela primeira vez, venho compartilhar receitas com vocês. Duas, pra ser exato.

Assim como as choux creams em 2022, os cookies em 2023 e as dezenas de risottos que fiz nas madrugadas do biênio 2012/2013 pros amigos da faculdade, duas semanas atrás me bateu uma vontade repentina de fazer molho de pimenta e picles de cebola roxa. No dia seguinte fui no mercado depois do expediente, comprei tudo e fiquei até 1h30 da manhã na cozinha.

Já aviso de antemão, nada de receita bonitinha com medidas exatas. O molho, especificamente, depende muito do sabor que você quer, seja um toque mais adocicado ou um pouco mais apimentado, a acidez mais presente, enfim, vou te dar os ingredientes e você que bote o quanto achar melhor, afinal quem sou eu pra dizer o que é mais saboroso pra você. O picles, por sua vez, tem uma quantidade exata, mas mais nas proporções do que na quantidade. Agora chega de papo e vamos ao que interessa, começando pelo último.

Picles de cebola roxa

Os ingredientes são vinagre de vinho tinto, água, pimenta-do-reino em grão, louro e - ora quem diria - cebola roxa. “Ai, André, posso usar outro vinagre no lugar do vinho tinto? E se a cebola for da branca, tem problema”? Olha, ninguém vai na sua casa fiscalizar o que você tá fazendo, então fique à vontade pra substituir o que quiser, sabendo que o resultado vai ser completamente diferente pra cada coisa alterada, então esteja por sua conta e risco. Prossigamos para o modo de preparo.

Misture PARTES IGUAIS - detalhe importante - de água e vinagre numa panela, em quantidade que seja suficiente pra cobrir a quantidade de cebola que você quer piclezar. Adiciona um tanto de grão de pimenta e folhas de louro junto, de novo recorrendo ao bom senso pra deixar os sabores equilibrados, e bota pra esquentar.

Enquanto a mistura esquenta, corte as cebolas radialmente (como no desenho tosco abaixo, que você vai fingir que tá certinho porque eu já tô te fazendo a boa de passar uma receita show), ponha num escorredor de massa e enxágue bem, depois encha uma tigela com água e gelo e jogue a cebola dentro.

Assim que a mistura de água e vinagre levantar fervura, escorra a cebola e a ponha em um recipiente - preferencialmente de vidro - que tenha tampa, tire o líquido do fogo e bote diretamente sobre ela, coando com uma peneira pra não ter que ficar catando folha e grão de pimenta do meio, depois. Tampa o recipiente e bota direto na geladeira - sim, ainda quente. Espera de um dia pro outro e pronto, agora você tem quanto picles quiser.

 

Molho de pimenta

Aqui dei uma roubada no nome porque a parada ficou mais pra pasta do que pra molho. Quanto menos água no resultado final melhor, porque aumenta a durabilidade, então usei como líquido um pouco de vinagre de vinho tinto, o que também influencia no sabor. Os ingredientes que eu usei foram pimenta dedo-de-moça, pimenta cambuci, pimentão amarelo, tomate, cebola, alho, alecrim, manjerona, azeite, sal e vinagre de vinho tinto. De novo, muda o que você quiser, só não desapegue do bom senso.

Pré-aquece o forno a uns 220ºC e espalha em uma assadeira todos os legumes, cortados do tamanho que você achar melhor e que se encaixem na forma como você vai bater o molho depois. Eu usei um mixer, então cortei tudo em pedaços pequenos. Espalhe uns galhos das ervas aromáticas por cima deles e besunte tudo com azeite. Sei que tá caro, então se quiser misturar com um tico de óleo pra render, pode. O mais importante é que seja quantidade suficiente pra untar o fundo da forma, já que não é pra vedar a assadeira, e que o sabor do azeite não seja sobreposto ou suavizado demais. AINDA NÃO PONHA SAL, pra evitar formar água no fundo, já que a ideia é assar e não vaporizar os ingredientes.

Bota pra dentro do forno e deixa assar até que tudo esteja com aquele aspecto dourado começando a tostar, como se fosse um gratinado que passou um pouco do ponto. O ideal é que a assadeira fique o mais distante possível do fogo, no forno, então se o seu só tiver uma grade, abaixa a temperatura pra 200ºC quando colocar os legumes lá dentro. Depois de assados, só bater/processar tudo junto e temperar com sal, mais um pouco de azeite e vinagre (que você pode usar pra ajustar a textura, lembrando que, obviamente, quanto mais vinagre, mais ácido).

Agora uma dica. Como eu gosto de coisas com quantidades inumanas de pimenta, ainda peguei mais um tanto delas, espetei num garfo trinchante e tostei direto na boca do fogão, depois misturei na pasta só cortado na faca, mesmo. Lembre-se que o limite é o bom senso, e como essa fronteira é muito pessoal, cruze por sua própria conta e risco.

Se fizer alguma das receitas e dúvidas surgirem, pode dar um alô, ainda que eu ache que, apesar de zero técnicas, as descrições ficaram razoavelmente didáticas. Ou se não fizer nenhuma e só quiser bater papo sobre comida, também pode dar um alô. Caso esteja esperando outras receitas, quem sabe alguma hora elas aparecem por aqui, também. Agora, sendo sincero, abaixe essas expectativas, porque não faço ideia de quando isso vai acontecer de novo.


Até a próxima.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário