Nas últimas semanas
estive à beira de vitimar a mim mesmo da estapafúrdia condição de autocobrança
por produtividade de escrita. Quando iniciei o blog e, previamente a ele, a
atividade do escrever, mesmo havendo a vontade de que tudo isso se convertesse em
algo sério e recorrente, estabeleci comigo o acordo que rege todas as minhas
atividades que não sejam obrigatórias e, de forma mais abrangente, a forma como
eu me relaciono com o mundo: eu não “tenho que” nada.
“Como assim, André?
Nossa, essa afirmação ficou muito confusa”. Explico. Tempos atrás relatei minha
relação com o hobby mais significativo que tenho hoje, a fotografia analógica,
que segue firme e forte. Venho me aprofundando cada vez mais no entendimento
sobre equipamentos, técnicas e possibilidades sem absolutamente nenhuma
intenção de que isso se torne algo além do que é, um hobby.
A mesma coisa
acontece com a academia. Toda vez que ponho os pés naquele antro de
autoflagelação é ridículo como é fácil identificar quem tá indo, como eu, só
pra fazer a tão necessária manutenção da saúde física e quem vai pra performar.
Quando digo performar me refiro a todo tipo de situação imaginável em que
alguém se coloca nesse lugar de parecer - ou talvez tentar provar - alguma
coisa, seja pra si ou pros outros.
A pessoinha X de
calça, moletom e pochete em TODOS os treinos, a pessoinha Y que usa todo o
aparato caricato de bodybuilder de revista (com a irreverente regatinha
esfola-mamilo inclusa, claro) e a pessoinha Z que passa andando de braço aberto
parecendo aqueles abridores de vinho meia-boca pra mostrar pra todo mundo o
quanto a musculatura tá tonificada (enquanto as pernas parecem as de um boneco
de palitinho desenhado por uma criança de 5 anos).
Vou revelar um
grande segredo pra essas pessoas, agora: NINGUÉM se importa. Na humilde posição
de comentador da vida cotidiana - e obviamente falando o que eu quiser, já que
esse blog é meu - deixo meus centavos de contribuição sobre qual deveria ser a
etiqueta comportamental da academia: a mesma de um boteco decadente. Nesses
espaços, pessoas taciturnas entram discretas e ligeiras pra adquirir sua dose
momentânea de endorfina, dopamina e o que mais lhes convenha, saindo por fim no
mesmo estado de consternação solene em que chegaram.
E isso é válido pra
todos os outros âmbitos da vida. A não ser que de fato se esteja disputando uma
competição, NADA na vida tá valendo um prêmio. Tira suas fotos, vai fazer seus
exercícios, aprender a cozinhar sem precisar virar CEO de MEI, só curte. O pódio
que a sociedade vende simplesmente não existe. Aproveita sua vida e seu tempo
pra curtir sem neuras. A vida já é dura demais sem achar que tudo é uma
disputa.
Esse texto, por
exemplo. Completamente mediano. O primeiro que eu escrevo em mais de uma mês e
atingi a mais absoluta mediocridade, mas tudo bem. Me reservo o direito de não
prometer e também não entregar nada além do que eu estiver afim.
Até a próxima.