Tentando dar início à
pequenas mudanças, aderindo ainda que um pouco contrariado ao ditado “ano novo,
vida nova”, a primeira semana de 2024 marcou uma “revolução” tecnológica na
minha vida: aderi ao streaming musical.
Não posso negar que, mesmo
gostando da experiência, tenho receio de esquecer da conexão com a música que o
hábito de pesquisar, garimpar e baixar uma a uma as faixas e álbuns que
habitavam meu telefone proporcionava. Óbvio que utilizar os meios digitais não
impede que ela permaneça, mas sendo uma pessoa de hábitos, estaria mentindo se
dissesse que não vou pensar nisso.
Como boa parte dos jovens da
minha geração, fui tomado de assalto pelo lançamento dos players de mp3. No
começo, as músicas baixadas - por meios TOTALMENTE NÃO ILEGAIS, Abin, não se
preocupe - eram quase sempre só aquelas que não estavam em nenhum CD ou LP que
a gente tinha em casa, e como meus pais amam música tanto quanto eu, essas
opções se restringiam aos gêneros que eles não tinham hábito de ouvir, o que
fazia meu aparelhinho da extinta Creative - com seus insanos 1GB de
armazenamento - o mais próximo que um adolescente de 13 anos poderia chegar de
hard rock, metal e rebeldia.
Os anos passaram, as
condições melhoraram e fui agraciado com o ápice da tecnologia de áudio
portátil: iPods, esses sim os verdadeiros responsáveis pelo hobby de garimpo
musical. iPods não só exigem um programa específico pra receberem arquivos como
também permitiam um nível nunca antes visto de organização deles. Além dos
óbvios nomes de faixa, álbum e artista, era possível inserir letras das
músicas, que passavam progressivamente na tela à medida que a música corria,
capas, gênero e mais uma série se informações que raramente interessam a alguém
num arquivo digital.
Não raramente passava 4 ou 5
horas pulando entre páginas do YouTube, sites de compartilhamento de arquivos e
versões pré-históricas de streamings - pesquise sobre o GrooveShark - pra
encontrar músicas em boa qualidade ou tentando achar mais informações sobre
alguma banda obscura numa internet que ainda, caso não recordem, engatinhava.
Isso, inclusive, é tema pra texto num próximo momento, o quanto a internet se
transformou nos últimos 10 anos. Não parece tanto, mas com certeza é bastante
pra que ela tenha praticamente se tornado outra coisa. Enfim, voltemos pro
tópico.
A rusticidade e dificuldade
do processo eram tão grandes que ele nem sequer poderia chegar perto de
substituir a mídia física, e não à toa o garimpo digital andou por anos junto
com o de CDs, quando o dinheiro permitia. A extinta loja Ferrs - junto com as
livrarias do Gonzaga - era uma das poucas coisas que realmente me interessavam
quando vinha passear em Santos, já que a praia nem de perto me é atrativa.
Passava nela quanto tempo fosse possível, e ainda hoje guardo grandes álbuns
que só lá eram possíveis de serem encontrados nessa província litorânea.
Todos esses processos
estabeleciam uma proximidade com a música que provavelmente o streaming nunca
seja capaz de reproduzir. As horas buscando músicas específicas e álbuns que
não chegavam por preços razoáveis através das importadoras e as conversas com
vendedores em lojas de música quase que nos forçavam a ir de encontro também
com as histórias e minúcias do que estávamos consumindo, estabelecendo um elo
profundo entre consumidor, criador e criatura.
Como eu disse antes, não
acredito que os serviços de distribuição digital vão acabar em definitivo com
esse vínculo, até porque a música - não só ela, mas a arte de forma geral - se
ocupa desde sempre de preencher as rachaduras que a solidão e outras tristezas
cavucam no coração, mas também acolhe sem questionamentos os momentos felizes,
e essa capacidade não é o meio que é capaz de tirar dela.
O que me deixa intrigado,
muito mais do que receoso, é a possibilidade de escapar de nós toda essa cadeia
de pequenos momentos e prazeres que tornavam cada descoberta única e especial,
nos permitiam estabelecer vínculos tangíveis com as pessoas que orbitavam esse
processo e intangíveis com cada indivíduo envolvido na criação do que quer que
você estivesse conhecendo. Os algoritmos de recomendação e curadorias de
sabe-se lá quem dentro dos streamings tem seu papel e lugar na prateleira de
possibilidades, claro, mas sinceramente nenhum gera essa sensação fascinante de
descoberta.
É certo que eles permitem a
massificação do acesso à música, coisa que até não muito tempo atrás só era
possível, pra um volume considerável de pessoas, através do rádio, selecionado
e filtrado por quem estivesse decidindo o que seria tocado. No final das
contas, então, a cobra não estaria mordendo o próprio rabo? Enfim, outro
assunto pra outra hora. Acho que estou começando a dever textos demais. Pelo
menos agora posso compartilhar belíssimos cards e retrospectivas de final de
ano nos stories do Instagram.
Até a próxima.
Muitos detalhes a considerar nessa mudança, mas se o gosto pela música prevalece, ainda saímos ganhando🤗🎶
ResponderExcluirAcredito que a mudança é inevitável...porém os meus hábitos musicais particulares não irão perecer
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