terça-feira, 11 de julho de 2023

Essa Louca Estrada da Vida




O que determina os lugares onde a gente vai chegar? Em tese temos a possibilidade de escolher nossos caminhos, mas quando eles terminam - provavelmente em uma encruzilhada com mais caminhos ainda - a gente já nem lembra direito qual era o ponto de partida. Isso significa que nos desviamos? Que a rota era mais sinuosa ou confusa do que esperávamos? Ou será que o caminho simplesmente é, e tentar encontrar um sentido nele, planejando a rota minuciosamente, é só uma grande perda de tempo?

Como se poderia esperar desse chato que vos escreve, sempre procurando pelo em ovo, acredito que nenhuma dessas alternativas. Nem acho que a vida se disporia assim a ser tão simples. Na real, na observância das coisas que desfrutam dela, acredito que a vida faz questão de pensar “eu vou complicar, sim! Você que se vire”.

Não sou desses que pensa que um caminho fácil demais é chato ou ruim, porque “não forma caráter”. Papinho furado. O que não forma caráter é geração após geração não tentar reverter os erros do passado e continuar propagando a mesma ladainha de quem veio antes, como se soubessem o que estavam fazendo. Vou contar um segredo: ninguém sabe. A vida fácil é boa sim. Não ter que passar perrengue devia ser o mínimo, assim como poder desfrutar de coisas que são o mínimo pra se ter alguma qualidade de vida.

Faço essas reflexões pensando na minha própria trajetória. Houve um tempo em que não havia dúvida, era a gastronomia e pronto. E o tempo - sempre ele - passou, fui caindo de um lado pro outro, estudando, trabalhando, estudando mais um pouco, e 15 anos depois de dizer pela primeira vez que queria me tornar um cozinheiro, não tenho mais um pingo de vontade de pisar novamente numa cozinha, não esquecendo, claro, que isso só é possível graças ao fato de eu poder desfrutar de uma coisa que, como eu disse anteriormente, é algo que deveria ser o mínimo, mas que numa sociedade desigual, se torna um privilégio: escolha.

Eu tentei, não deu certo, e agora posso tentar de novo, numa outra coisa, e nunca esqueço que meus pais - sempre eles - me proporcionaram e continuam proporcionando o privilégio da escolha. Se alguém me dissesse uns 4 anos atrás que eu entraria num curso da área de tecnologia, gostaria da ideia e no meio dele acabaria, por conta de uma disciplina específica, descobrindo uma paixão real pela escrita, não sei se duvidaria, mas com certeza me ocorreria algo como “tá maluco? Depois desse tempo todo inventar moda”? E bom, cá estou escrevendo esse relato.

Falei no texto anterior - Amizades São os Amigos que Fazemos Pelo Caminho - sobre a raridade cada vez mais frequente de poder ter encontros pessoais com amigos que vivem longe, e faço questão de reiterar meu ponto previamente explicitado. Não ponho peso nenhum nessa distância pois, criando a ponte entre este e aquele escrito, essa é a rota que a vida vai desenhando pra cada um, e as amizades - ao menos aquelas que se fazem duradouras - vão dando um jeito de cruzar seus caminhos, e mesmo quando não é possível, seguimos em paralelo, torcendo de longe uns pelos outros.

No fim das contas, a grande sacada é tentar fazer as pazes com o fato de que sim, a vida é absolutamente imprevisível. Isso não nos tira a possibilidade de escolher as coisas, obviamente, nem de fazer planejamentos. E pode ser que a vida corra exatamente como você desenhou, sem nenhum grande desvio. Mas deixo minha recomendação: desenha seu mapa com lápis, num papel bem grande. Pode ser que você precise refazer algumas partes durante a caminhada.

terça-feira, 4 de julho de 2023

Amizades São os Amigos que Fazemos Pelo Caminho

 



Não sou muito afeito a metáforas e analogias. Talvez porque na minha cabeça as coisas sejam claras e objetivas demais, como na manhã do meu aniversário, em que acordei, tomei um café e passei roupa. Absolutamente nada fora do ordinário. Simples e direto. É meio engraçado esse costume de só celebrar o envelhecer em dias específicos, como se não fossem corriqueiros ou como se a rotina não se aninhasse neles, também.

Particularmente gosto mais da ideia de que cada dia é uma celebração, exatamente por achar que também é festivo o ordinário. Minha família sempre se proporcionou o privilégio desse festejo continuo, diluído nos encontros mais corriqueiros, sempre tomados de aconchego. Gostaria de reiterar que essa diluição não é no sentido de dissolução, mas de capilaridade, de se espalhar e ocupar os espaços lentamente, tomando a dimensão que se permite e necessita, como o rio que ao longo das eras vai abrindo seus caminhos entre vales, montanhas, planícies e planaltos, transformando a paisagem e os afetos que se banham nele. E eu dizendo que não gosto de metáforas.

Com meus amigos não foi diferente, ainda que, sob muitos aspectos, seja. Ao longo dos anos, entre encontros e desencontros, distâncias continentais e rotinas que cobraram preços muitas vezes excessivos, ainda assim conseguimos criar uma ligação que, se eu acreditasse nessas coisas, diria que vem de outras vidas. Mesmo atravessados pela separação física, nunca deixamos de nos fazer presentes um na vida do outro e, na medida do possível, continuamos fazendo.

É um tipo de amizade que abraça essa capilaridade na forma de danças bem ensaiadas, coreografadas por anos, no ritmo que tiver que ser e que a ocasião requisitar. Os envolvidos vão, aos poucos, entrando no tempo um do outro, entendendo o momento das entradas de forma quase etérea, telepática. Amizade é arte performática, ainda que não seja - ou não devesse ser - sobre performance.

Dizem que amigos são a família que a gente escolhe, mas não acho que seja tão simples assim. Em diversos períodos da minha vida estabeleci conexões e afetos com uma diversidade enorme de pessoas - apesar da minha reconhecida e quase mitológica timidez - e acredito que em maior ou menor medida consegui deixar marcas positivas na vida dessas pessoas assim como elas deixaram na minha (se você é uma dessas pessoas, me conta o porquê).

Contudo, e isso talvez seja até meio óbvio, porque acontece com todos nós, muitas dessas pessoas seguiram seus rumos totalmente indiferentes ao meu e vice-versa. Não ponho nenhum peso nisso nem aponto dedos. A vida é essa, e fazer as pazes com esse processo nos ajuda a entender melhor os laços que ficam. Esses, por sua vez, tomam uma dimensão totalmente diferente, e por isso eu digo que não é tão simples quanto escolher. As amizades sólidas se estabelecem meio sem querer, quase que por acaso, e em algum lugar do seu âmago você sabe que quer estar junto daquelas pessoas, simplesmente porque sim.

As duas últimas semanas da minha vida foram tomadas desse sentimento. Junho tem uma confluência gigantesca de aniversários de pessoas que eu amo, e felizmente a maior parte delas habita as redondezas. Pras que estão longe, é como eu disse anteriormente, tentamos nos fazer presentes da forma que for possível, e esse ano foi especialmente especial - com essa redundância, mesmo, que ainda é pouca - porque pudemos passar um período considerável na presença física uns dos outros, coisa cada vez mais rara em razão das caminhanças da vida. E tá tudo certo.

É provável que essa seja a grande razão dessas relações continuarem tão sólidas, mesmo depois de mais de uma década. Não importa tempo ou distância, continuamos caminhando em paralelo, nos celebrando sempre que possível, simplesmente porque sim. Não tem cobrança, imposição, questionamento. Ou melhor, quase nunca, né. É bom deixar um espacinho pra chatice moderada. Afinal de contas, isso também entra nessa soma. Amizades sólidas abraçam os defeitos tanto quanto as virtudes, e só se estabelecem porque aceitar o outro, em sua plenitude, ainda que seja difícil, também fortalece os laços.

Escrevendo esse texto me pego abstraindo sobre o que o André do passado pensaria ou escreveria sobre esse assunto. No fim das contas, acho que ele, assim como eu, diria pra eu parar de perder tempo com esse tipo coisa, porque não importa. Não que não tenha nenhuma relevância, mas concordamos que mais importante do que isso é o momento presente e o que vem pela frente, que só faz sentido porque temos esse monte de gente pra amar e aguentar nossas chatices e reclamações sobre por que diabos as pessoas não andam do lado certo da calçada - ou qualquer umas dessas coisas que me tira do sério sem nenhum motivo concreto.

Enfim, acho que chega de sentimentalismo. Volto na próxima.

 

 

 

 

(Amo vocês)