O que determina os lugares onde a gente vai chegar? Em tese temos a possibilidade de escolher nossos caminhos, mas quando eles terminam - provavelmente em uma encruzilhada com mais caminhos ainda - a gente já nem lembra direito qual era o ponto de partida. Isso significa que nos desviamos? Que a rota era mais sinuosa ou confusa do que esperávamos? Ou será que o caminho simplesmente é, e tentar encontrar um sentido nele, planejando a rota minuciosamente, é só uma grande perda de tempo?
Como se poderia esperar desse chato que vos escreve, sempre procurando pelo em ovo, acredito que nenhuma dessas alternativas. Nem acho que a vida se disporia assim a ser tão simples. Na real, na observância das coisas que desfrutam dela, acredito que a vida faz questão de pensar “eu vou complicar, sim! Você que se vire”.
Não sou desses que pensa que um caminho fácil demais é chato ou ruim, porque “não forma caráter”. Papinho furado. O que não forma caráter é geração após geração não tentar reverter os erros do passado e continuar propagando a mesma ladainha de quem veio antes, como se soubessem o que estavam fazendo. Vou contar um segredo: ninguém sabe. A vida fácil é boa sim. Não ter que passar perrengue devia ser o mínimo, assim como poder desfrutar de coisas que são o mínimo pra se ter alguma qualidade de vida.
Faço essas reflexões pensando na minha própria trajetória. Houve um tempo em que não havia dúvida, era a gastronomia e pronto. E o tempo - sempre ele - passou, fui caindo de um lado pro outro, estudando, trabalhando, estudando mais um pouco, e 15 anos depois de dizer pela primeira vez que queria me tornar um cozinheiro, não tenho mais um pingo de vontade de pisar novamente numa cozinha, não esquecendo, claro, que isso só é possível graças ao fato de eu poder desfrutar de uma coisa que, como eu disse anteriormente, é algo que deveria ser o mínimo, mas que numa sociedade desigual, se torna um privilégio: escolha.
Eu tentei, não deu certo, e agora posso tentar de novo, numa outra coisa, e nunca esqueço que meus pais - sempre eles - me proporcionaram e continuam proporcionando o privilégio da escolha. Se alguém me dissesse uns 4 anos atrás que eu entraria num curso da área de tecnologia, gostaria da ideia e no meio dele acabaria, por conta de uma disciplina específica, descobrindo uma paixão real pela escrita, não sei se duvidaria, mas com certeza me ocorreria algo como “tá maluco? Depois desse tempo todo inventar moda”? E bom, cá estou escrevendo esse relato.
Falei no texto anterior - Amizades São os Amigos que Fazemos Pelo Caminho - sobre a raridade cada vez mais frequente de poder ter encontros pessoais com amigos que vivem longe, e faço questão de reiterar meu ponto previamente explicitado. Não ponho peso nenhum nessa distância pois, criando a ponte entre este e aquele escrito, essa é a rota que a vida vai desenhando pra cada um, e as amizades - ao menos aquelas que se fazem duradouras - vão dando um jeito de cruzar seus caminhos, e mesmo quando não é possível, seguimos em paralelo, torcendo de longe uns pelos outros.
No fim das contas, a grande sacada é tentar fazer as pazes com o fato de que sim, a vida é absolutamente imprevisível. Isso não nos tira a possibilidade de escolher as coisas, obviamente, nem de fazer planejamentos. E pode ser que a vida corra exatamente como você desenhou, sem nenhum grande desvio. Mas deixo minha recomendação: desenha seu mapa com lápis, num papel bem grande. Pode ser que você precise refazer algumas partes durante a caminhada.